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Testemunho de endividamento

Depois do testemunho de insolvência pessoal enviada por um leitor do AprenderaPoupar.com hoje vamos publicar uma historia de endividamento enviada pela nossa leitora ” Ana” que decidiu partilhar a sua história com todos de modo a mostrar que não se deve desistir por muito que a situação pareça sem solução.

A minha história de endividamento começa em 2010 , altura em que decidi pedir um crédito no valor de 8 mil euros de forma a fazer algumas obras em casa. Em todos os Invernos as paredes ficavam cheias de humidade e criava até gotas de água e com isto estragava-me alguns móveis e até o próprio chão que é taco de madeira.

Decidi em conjunto com o meu marido pedir um financiamento bancário para ser efectuado as obras de forma a resolver os problemas de uma vez por todas e como ambos estávamos empregados e com um rendimento mensal de 2000 euros , nem pensámos duas vezes porque a nossa taxa de esforço assim o permitia.

Somos um casal na casa dos 40 e muitos e já com alguma experiência de vida e por isso a nossa decisão foi rápida e o crédito foi aprovado sem problemas nenhuns no prazo de 36 meses com uma prestação de cerca de 330 euros .

Era perfeitamente dentro das nossas possibilidades visto que encargos bancários tínhamos só o crédito habitação no valor de 409 euros.

As obras foram feitas e o tempo foi passando até que no dia 23 de Julho de 2011 eu e as minhas colegas do trabalho recebemos a notícia que a fábrica onde trabalhávamos ia fechar.

Foi com bastante tristeza que recebemos esta notícia até porque muitas tal como eu trabalhávamos já há mais de 15 anos mas a direcção da empresa decidiu continuar com a produção noutro país, ou pelo menos foi essa a desculpa na altura.

Disseram-me que iam fazer as contas da indemnização a que tinha direito mas após uma semana sempre a empatarem, quando iamos entrar ao trabalho às sete da manhã vimos o portão fechado e qual foi o nosso espanto quando o porteiro disse que a fábrica não ia abrir mais porque tinha sido declarada insolvente.

Apesar de a direcção nos ter enrolado durante uma semana , nunca nos tinha passado pela cabeça que as coisas iam terminar assim e o mais preocupante é que de um dia para o outro fiquei sem trabalho e rendimento, pior ainda sem saber se de facto iria receber algum dinheiro pelos anos que trabalhei lá.

Com muita tristeza minha e revolta o pior veio a acontecer ! O processo foi para tribunal e não sabendo explicar bem como ( conversas de advogados que todos os ex empregados contratamos ) não tivemos  direito a um tostão .

Decidi rapidamente procurar outro trabalho , mas não estava fácil . Apesar de me ter sido dado os papéis para o fundo de desemprego não queria estar a viver dependente do subsídio e consegui colocação num restaurante perto da zona onde moro.

Nem cheguei a colocar os papéis para o fundo de desemprego porque tive a sorte de um dia para o outro ser chamada para trabalhar nesse restaurante que prometia um vencimento na ordem dos 750 euros. Comecei a trabalhar e gostava do que fazia, passou um mês, dois .. até que no terceiro mês o patrão começou a querer pagar o ordenado às prestações , ora dava algum dia 5 , depois mais algum dia 15…

Desculpou-se que as coisas não estavam a correr bem e tinha de ser assim, mas eu vi os almoços e jantares que servimos e era uma casa com muito movimento. Como não tinha solução deixei as coisas andarem alguns meses mas a situação foi piorando e eu já tinha centenas de euros por receber e estava a interferir com a minha vida porque eu e o meu marido tínhamos despesas certas todos os meses.

Como é fácil de imaginar tive que me ir embora, nos últimos 2 meses só recebi 200 euros e por isso não podia continuar mais. O mais revoltante para mim foi ter desperdiçado o subsídio de desemprego que me dava alguma segurança, mas preferi trabalhar para ganhar o meu dinheiro e agora estava sem subsídio e sem dinheiro !!

Em espaço de poucos meses começaram os meus problemas financeiros porque só o meu marido recebia e as contas eram iguais às de antigamente. Chegamos ao ponto de ter que optar entre pagar os créditos ou vivermos e claro que optamos por viver !

Cedo começou o incumprimento bancário e cada vez era maior porque as prestações estavam a acumular. Já não sabíamos o que fazer e sinceramente havia dias que nem me apetecia levantar da cama somente com a esperança de um dia acordar e que todo aquele pesadelo não passa-se de um sonho.

Mas não , era bem real e sempre a piorar. O credor do crédito dos 8000 euros começou a pressionar fortemente para ser pago os montantes em dívida e mesmo explicando que não tínhamos como pagar os valores em dívida de nada serviu.

Tentámos também ir ao gabinete de endividamento da DECO.. nada…. consolidar créditos… nada porque tínhamos dívidas e o nome sujo no Banco de Portugal…renegociar com os credores… nada mesmo…

Estávamos desesperados até que aconteceu aquilo que para nós foi um milagre. Os pais do meu marido foram imigrantes em França e uma tia dele ainda hoje vive lá ,  no início de 2012 essa tia veio a Portugal para visitar os pais do meu marido ( ele não a conhecia, ou melhor, lembrava-se muito pouco dela ) e esteve cá cerca de um mês para visitar outros familiares e amigos.

Fomos à casa dos meus sogros jantar e numa conversa que surgiu sobre a crise na Europa começamos a falar sobre a nossa situação em exemplo de como estava a nível de emprego em Portugal e como muitos patrões de aproveitavam das necessidades dos outros para fazer gato sapato.

Contámos praticamente tudo e a Tia do meu marido ficou muito sensibilizada com toda a situação. Qual não foi o nosso espanto e alegria ( imensa alegria !! ) quando no dia seguinte aparece lá em casa com os meus sogros e ofereceu-nos um cheque cujo valor dava para pagar o resto do crédito habitação e do crédito pessoal.

Como podem imaginar os nossos corações dispararam e apesar de ainda nos ter passado pela cabeça recusar, sabíamos que tínhamos que aceitar porque estávamos sem solução e mais tarde ou mais cedo iríamos perder a nossa casa .

Com o dinheiro pagámos os créditos todos e saiu um peso das nossas costas enorme. O que a tia do meu marido fez não tem palavras e irei agradecer até o resto dos meus dias.

Após cerca de 4 meses consegui emprego como empregada de uma loja de costura e apesar de a tia do meu marido ter dito que não queria que devolvêssemos o dinheiro, nós fizemos questão de o devolver mediante aquilo que nos fosse possível e por norma enviamos cerca de 200 euros todos os meses .

Decidi partilhar esta nossa história porque por vezes estamos tão em baixo e com a nossa vida virada do avesso que apetece desistir, mas peço que nunca percam a fé e a esperança que um dia será melhor.

Percebo que situações (milagres ) como nos aconteceu é raro mas ainda existe pessoas boas e podendo ajudarem quem sabe se um dia não é a vossa vez de verem uma mão estendida pronto para dar ajuda.

O significado de eu ter pedido para ser publicado a minha história é que as muitas famílias que neste momento estão a passar por situações de endividamento como nós estivemos e piores que partilhem os vossos problemas com os amigos e familiares porque quem sabe se um deles não o podem ajudar….

Joana Esteves

Paixão pela internet e finanças pessoais . Autora de vários artigos no site Aprender a Poupar.

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